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Caravela de bioplástico projetada pela Furf Design Studio utiliza algas para limpar as águas e surge como opção autossuficiente, barata e poética de intervenção urbana.

Dói saber que há pelo menos 20 anos a ciência sabe qual é a maneira mais eficiente e barata de solucionar a poluição orgânica das águas de rios e parques urbanos, e mesmo assim não conseguiu transformar esse conhecimento em realidade. Mas finalmente a história começa a mudar. Em colaboração com o oceanógrafo Bruno Libardoni, que está terminando o doutorado em Geociências na Universidade Federal Fluminense e que já passou por renomadas instituições de ensino na Europa, o premiado estúdio curitibano Furf Design, da dupla Maurício Noronha e Rodrigo Brenner, acaba de sair do forno com a Caravela, uma estrutura despoluidora de corpos de água que é sustentável, eficiente e democrática. E já que a palavra consta no dicionário: revolucionária.

Crédito: Furf Design Studio/Divulgação

A chave está no processo natural de crescimento das algas, que em simbiose com as bactérias, utilizam a poluição da água para acontecer. Por isso, toda a estrutura da embarcação que se move pelo espaço ao redor de um eixo, feita a partir de bioplástico com 10 m² e 3 metros de altura, foi pensada para otimizar o crescimento delas, com velas e elementos submersos que geram turbulência e movimento. Para delimitar o crescimento e impedir um desequilíbrio ambiental, a Caravela recebe uma tela de algas.

Por dia, segundo dados de pesquisas globais, as algas conseguem retirar 10 gramas de Fósforo das águas e geram 350 gramas de alga seca (biomassa). Ao longo de um ano, uma única Caravela pode render 1 tonelada de biomassa. Isso tudo por meio de um processo natural, sem uso de energia convencional e sem custo operacional pesado, como é comum em outras alternativas. “Essa é a honestidade científica do projeto. Não vamos inserir produtos. Vamos utilizar organismos do próprio ambiente. Implementada a Caravela, as algas começam a crescer, a água fica mais clara, com menos poluição. Depois de duas semanas, com crescimento máximo das algas, elas são colhidas e podem virar biocombustível, fertilizante para a agricultura, proteína para industria alimentícia ou bioplástico para construir mais caravelas“, celebra Libardoni.
A peça conta ainda com painéis solares que irão gerar energia elétrica para alimentar luzes de LED vermelhas e azuis que permitirão uma fotossíntese contínua durante a noite, aumento o potencial de crescimento das algas em até 40%.

Confira no esquema abaixo o funcionamento da Caravela

Crédito: Furf Design Studio/Divulgação

 

A peça tem ainda sensores que permitem saber as condições da água em tempo real. “As pessoas podem caminhar dentro dos parques, identificar a Caravela e obter os dados que quiserem. Isso é mais democrático e transparente do que só confiar em dados oficiais”, contam os designers.
Além de toda a solução despoluidora, a Caravela é uma intervenção urbana poética. “O movimento é quase como um balé, hora assumindo o formato de uma gota e outras vezes de barquinho caricato de origami”, brinca Brenner. O próprio nome e forma da estrutura nascem com ginga poética. “Na época das caravelas, tantos vieram aqui explorar para descobrir novos mundos. Hoje não existem mais mundos físicos a serem descobertos, mas novos mundos mentais, modelos de pensamento, percepções, consciências”.

Crédito: Furf Design Studio/DivulgaçãoO intuito é aplicar o projeto primeiro em Curitiba. O teste piloto em águas deve acontecer dentro de três meses, aproximadamente, depois de novos aprimoramentos. Os designers ainda avaliam o preço da primeira caravela. Por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a Prefeitura de Curitiba já sinalizou que apoia a iniciativa em seus parques.

Crédito: Furf Design Studio/Divulgação

 

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br

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